Na luta contra a insuretech Youse, corretores vencem o primeiro round

22/11/2016 09:25
Não bastasse a morosidade da Susep em liberar o funcionamento da nova seguradora, juiz suspende a plataforma online de vendas que usa a marca
 

A disrupção, quando chega, causa muitas disputas jurídicas antes que novos modelos de negócio comecem a prosperar. Aconteceu com o Uber e os taxistas. Com o WhatsApp e as companhias telefônicas. Agora chega ao mercado de seguros. 

O pivô desta nova briga é a  Youse, serviço online de vendas de seguros da Caixa Seguradora que pretende se transformar em uma insuretch, com modalidades próprias de seguro. Descontente com a proposta da Youse, que tira de cena os corretores, a Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) abriu duas frentes de batalha legais, uma na Superintendência de Seguros Privados, outra na Justiça do Rio de Janeiro, para tentar suspender as operações do serviço.  

Nessa sexta-feira, a Fenacor ganhou a primeira batalha:  o juiz Alberto Nogueira Júnior, da 10ª Vara de Fazenda do Rio, concedeu à Fenacor uma liminar suspendendo  as atuais atividades da Youse. 

O que está em jogo?
Entre os maiores diferenciais da Youse está justamente a possibilidade de contratação de apólices personalizadas em questão de minutos e pela internet (via website ou aplicativo móvel), com diversos parâmetros que podem ser selecionados pelo cliente para atender a necessidades diversas. São diferentes combinações possíveis de opções para as apólices, no modelo de contratação direta, sem a intermediação do corretor, o que torna o serviço mais ágil e elimina etapas do atendimento.

 

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Na Susep, autarquia federal responsável pela supervisão dos mercados de seguros, resseguros, previdência complementar e capitalização, onde a aprovação do funcionamento da Youse como seguradora 100% digital, com licença própria, caminhava bem, segundo seu diretor, Eldes Mattiuzzo, o processo parou. As reclamações e denúncias da Fenacor a respeito da comercialização de produtos pela empresa começaram a ser analisadas pela Diretoria de Supervisão de Conduta, atrasando a finalização do processo. "Cumprimos todos os requisitos técnicos exigidos pela Suspe. Estava tudo ok, até que as críticas da Fenacor começaram a encontrar respaldo na nova administração da Susep", afirma o executivo.

Enquanto espera a licença da Susep, a plataforma de vendas online e a marca Youse  estão sendo usadas para a venda de seguros de carro, residencial e de vida da Caixa em seu site, no ar desde abril, onde a Youse diz ser "uma plataforma on-line da Caixa Seguros".

A Fenacor pede que a Youse tenha a sua licença negada pela Susep. E levou esse pleito para a Justiça.  Também alega que o serviço está operando ilegalmente. 

A determinação do Juiz do Rio é que a Caixa Seguros e a Youse deixem de fazer qualquer "divulgação, colocação de produtos ou oferecimento de serviços, novas contratações ou renovações de contratos, e de recebimento de valores" por meio do site.

Até o momento, a Youse afirma ainda não ter sido notificada da liminar. Quem entra no seu site não leva mais que alguns minutos para contratar um seguro. A experiência é rápida e simples, completamente automatizada. Caso o consumidor queira, pode pedir para conversar com um funcionário da empresas para retirar dúvidas.

"Privilegiamos a experiência do usuário", afirma Mattiuzzo. "E, por enquanto, operamos como uma marca da Caixa, embora nossos planos sejam o de ter nossos próprios produtos, baseados no apoio da tecnologia e comportamento dos usuários", reafirma o executivo.  Imagune ter um seguro para um carro compartilhado, do qual você não é dono, apenas um dos usuários. E que só esteja ativo quando você usar o veículo", comenta. 

 Mattiuzzo se queixa da Fenacor. Diz que a entidade tenta atrasar o futuro, sem perceber que há espaço para todos. "Hoje nós atendemos a 20% do total do mercado de seguros, e estamos conquistando um público novo. "A maioria dos nossos clientes está contratando um seguro pela primeira vez", completa. 

O desafio para setores que estão em vias de sofrer disrupção, como o de seguros, é que esse fenômeno é exponencial. No início, não é visto como uma grande ameaça, até que começa a crescer. Aí, alguns segmentos da sociedade, mais atingidos pelas mudanças, tentam impedir seu crescimento apelando para regulações, via de regra anacrônicas, incapazes de contemplar as inovações digitais.  Será que a Fenacor vai conseguir barrar o surgimento das  insuretchs no Brasil? 

Nos Estados Unidos, as Insuretechs costumam trabalhar com o conceito de O Usage Based Insurance (UBI) é um modelo de seguro baseado no consumo, permitindo uma contratação mais flexível. O consumidor pode contratar um serviço moldado às suas necessidades reais de uso, com base em dados e estatísticas, e o valor do produto fica mais justo e atrativo. A seguradora utiliza dados captados do usuário, com sua permissão prévia, para compor seu perfil de uso e assim adequar melhor o serviço a ser oferecido para ele. Uma visão mais detalhada sobre o perfil do cliente, com informações efetivamente observadas e não simuladas, permite ofertar prêmios, benefícios, descontos ou até mesmo uma cobrança mais alta com base no comportamento do usuário que aumente o risco de sinistro, explica Rodrigo Baptista, diretor de Vendas, Software Solutions da Pitney Bowes Brasil, em um artigo recentepublicado no site da CIO, que vale a pena ler.

 

Fonte:IDGNOW