A chegada do 5G no Brasil: infraestrutura, modelo de mercado e desafios
Durante painel realizado semana passada na Futurecom 2018 com diferentes atores da indústria de telecomunicações, ficou claro que o 5G vai ser o motor de uma nova revolução no setor e a esperança das operadoras para aumentar o faturamento. Phil Wilson, diretor de Estratégia e Operações de Telecomunicações da Deloitte, que fez uma rápida apresentação do mercado antes de iniciar as discussões, avisa que são dois desafios que as telcos precisam enfrentar: valorizar a capacidade de velocidade e baixa latência que a nova geração de banda larga móvel trará e utilizar a rede para capturar e prover os dados aos seus clientes, principalmente os corporativos. “Para o Brasil, o ponto de partida é a infraestrutura.”
Relatório recomenda que provedores de serviço de telecom antecipem investimentos em 5G
O desafio aqui é o espectro, o mesmo que o México enfrenta, segundo Gabriel Contreras, presidente do IFT. “Precisa ter espectro em frequências baixas, médias e altas”, afirma. A expectativa é a de que, assim que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) disponibilizar a frequência de 3,5 GHz, o horizonte do 5G se torne mais claro, acredita Marcos Scheffer, vice-presidente de Redes da Ericsson. “O 3,5 GHz é ótimo para começar o 5G, mas vamos precisar de frequências abaixo de 1 GHz para zonas rurais, 3,5 GHz para massificar e 28 GHz para garantir a qualidade”, complementa Wilson Cardoso, CSO da Nokia para a América Latina.
Ana Valero Huete, diretora de Regulamentação da Telefónica América Latina, diz que o espectro precisa ser disponibilizado junto com uma mudança na forma como o leilão é feito. “Pagar pelo espectro, pagar pelo seu uso e ainda cumprir regras de cobertura não é saudável para a indústria”, desabafa. André Borges, secretário de Telecomunicações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), diz que a recomendação é de que os leilões não tenham caráter arrecadatório e sim de incentivo ao investimento. “Perde entrada no caixa, mas ganha nos tributos em futuros serviços que vão utilizar a nova rede”, diz.
Do ponto de vista de infraestrutura, as operadoras acreditam que seus equipamentos já estão prontos para o 5G. Mauro Fukuda, diretor de Estratégia, Tecnologia e Arquitetura de Rede da Oi, diz que a empresa já busca implementar equipamentos preparados para o 5G, adequando só o software à tecnologia, sem abrir mão de parte da infraestrutura. “Rede já fica preparada para a atualização”, diz.
Ele ainda complementa dizendo que outras ações estão em curso para implementar a tecnologia, como a adequação do backbone e da rede IP para suportar a baixa latência do 5G. Ainda segundo ele, há a dificuldade de instalar antenas e de capitalizar a implantação de fibra óptica. Para Fukuda, é preciso uma readequação da infraestrutura de rede.
Ana, da Telefónica, concorda com ele e lembra a necessidade de investir em fibra óptica e outras tecnologias. Sobre isso, Borges, do MCTIC, defendeu o PLC 79/2016, que reforma a Lei Geral de Telecomunicações, como forma do setor público ajudar as operadoras a ter capacidade de investir. “Nosso papel é proporcionar o ecossistema”, diz, complementando sobre a necessidade de estimular a implantação de antenas e data centers no País também.
Modelo de mercado
“Enquanto o 3G e 4G trouxeram a revolução dos celulares conectando pessoas, o 5G vai conectar coisas e tudo vai mudar de novo”, disse Wilson, em sua apresentação. O tamanho e o preço dos sensores, que vem diminuindo ao longo do tempo, também ajudam o desenvolvimento desse mercado onde as previsões mostram que, em seis anos, nove em cada dez conexões serão entre máquinas.
Para o diretor da Deloitte, isso força novos modelos de mercado e as empresas envolvidas com telecomunicações nos Estados Unidos já começaram a se mover. Enquanto a Crown Castle, fabricante de infraestrutura para antenas, investe em small cells e fibra óptica, a operadora Vodafone aplica seus recursos em Wi-Fi.
Amol Phadke, diretor da Accenture, diz que os casos de uso do 5G não são para o mercado consumidor e que, para virar realidade, o modelo de negócio das operadoras vai ter que mudar para ter monetização. Ana, da Telefónica, diz que os casos de negócios mais claros são parecidos com os de serviços que as operadoras prestam para o mercado corporativo, mas que cobrança mensal não será cabível a todos.
A perspectiva da TIM é que o 5G abra mercados onde a operadora, que atua forte com o consumidor final, não tem acesso, diz Leonardo Capdeville, vice-presidente de Tecnologia da empresa. Ele acredita que o modelo será semelhante com a banda larga fixa e que o 5G seja utilizado na última milha.
“Mas a alavanca será a indústria, que vai ganhar mais competitividade”, diz Capdeville. Cardoso, da Nokia, vê na possibilidade de criação de uma rede privada de 5G para a indústria pode alavancar a chegada do 5G. “Vai ajudar a resolver o problema de produtividade do Brasil”, finaliza.
Fonte:ipnews