Campus Party esquenta com debate sobre custo da Internet no Brasil

02/02/2014 11:22

A Campus Party recebeu na tarde de sexta-feira (31) uma aguardada palestra o alto preço das conexões de Internet no Brasil; uma verdadeira queda de braço entre o governo e as empresas de telecomunicações. Se por um lado sobram impostos, de outro há baixa qualidade nos serviços.

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Utilizando comparativos entre países e a legislação brasileira, os palestrantes responderam perguntas e debateram questões como a infraestrutura e o relacionamento do país com os mercados estrangeiros. A conclusão é triste: enquanto o custo de implementar serviços de telecomunicações e Internet for alto, o preço dos serviços vai acompanhar a curva de investimento para fornecê-los.

Campus Party: palestrantes debatem sobre o preço da Internet no Brasil  (Foto: TechTudo/Paulo Vasconcellos)Campus Party: palestrantes debatem sobre o preço da Internet no Brasil (Foto: TechTudo/Paulo Vasconcellos)

 

Primeiramente, subiu ao palco Pedro Lucas Araujo, gerente de projetos de banda larga do Ministério das Comunicações. O representante do governo falou sobre a infraestrutura brasileira em relação aos cabos submarinos, situação que deve melhorar. Recentemente, o Brasil recebeu mais um, que o ligará à Europa, diferentemente dos outros cinco cabos, que passam pelos Estados Unidos.

Após ser questionado sobre incentivos do governo para a tecnologia 3G, Pedro comentou sobre a vontade da Anatel em acelerar o crescimento de Internet Banda Larga Móvel e fazer com que todos os mais de cinco mil municípios do país possuam conexão 3G até 2019; prazo que encerra em cinco anos.

Cabos Submarinos Brasileiro (Foto: TechTudo/Paulo Vasconcellos)Cabos Submarinos Brasileiro (Foto: Reprodução/Teleco)

Logo em seguida, quem falou foi Flávia Lefreve, advogada e membro do Conselho Consultivo da associação Proteste, que mencionou o artigo 65 da Lei Geral das Telecomunicações, que diz: “Não serão deixadas à exploração apenas em regime privado as modalidades de serviço de interesse coletivo que, sendo essenciais, estejam sujeitas a deveres de universalização”, destacando a privatização do serviço de Banda Larga de Internet, quando este deveria ser tratado como serviço de interesse coletivo.

Na contramão do governo, Flávia criticou a estrutura do Brasil em conexões 3G, embora a Anatel tenha estipulado a meta para 2019. “A estrutura para sustentar o plano 3G ainda não foi implementada no Brasil na forma que deveria”, comenta a advogada, que continua o argumento mencionando como exemplo, seu próprio modem 3G: “Eu mesmo quando utilizo meu modem na cidade, por muitas vezes eu o vi utilizar conexões 2G [...] Há uma falha de 60% do sinal transmitido, que inviabiliza a utilização desta conexão”, lamenta.

A advogada aproveitou também para firmar seu apoio ao grupo que organiza a "Campanha Banda Larga" – projeto que luta por Internet mais barata e de qualidade para todos – e mencionou uma promessa que havia sido feita no início do governo Dilma, quando em reunião com a Telebras foram prometidos R$ 1 bi por ano para serem investidos em infraestrutura. Porém, segundo a especialista, o panorama visto atualmente é de apenas R$ 500 milhões no mesmo período.

No compartivo global, Brasil perde para África

O português Nuno Vieira, da Rackspot – empresa de hospedagem com sede em Portugal – tomou palavra no debate para realizar um comparativo do mercado brasileiro com o mercado português. “O Brasil é o quinto maior país do mundo em número de usuários, mas ocupa o 84º lugar no índice de velocidade de Internet. Até a África possui Internet melhor que o Brasil”, explica o Diretor da Rackspot.

“Cerca de 50% do valor pago em Internet pelo público são impostos, como PIS, Cofins, ISS, ICMS e IPI.”, continua Nuno, que informou que o valor máximo de imposto pago em seu país é menos que 25% do valor.

Além do comparativo, Nuno destacou a dificuldade de trazer uma empresa de data centers para o Brasil. Segundo ele, um equipamento de última geração oferecido em Portugal pelo preço "X", no Brasil é vendido por três "X", sendo que este equipamento é duas ou três gerações inferior ao top de linha. E mesmo quando a empresa tenta entrar no mercado brasileiro, ela é taxada absurdamente.

Ou seja, a conclusão ainda é desanimadora. “O preço pago pela Internet não é somente pelo serviço, mas também pelo investimento da provedora”, explica Flávio Amaral, Diretor Vogal da ISOC no Brasil, que compara a Internet de 10 anos atrás com os tempos atuais. Seja rede móvel ou fixa, chega a ser uma tradição a cobranças de preços altos no país.

“Em 1996 a velocidade mais rápida do mercado era 2 Mbps, que custava R$ 32 mil”, diz o executivo. Flávio destaca que a baixa oferta dos provedores não supre a gigantesca demanda que surge na população, cujo o número de celulares ativados já soma mais que o total da população brasileira.

 

fonte:techtudo