É evidente que é preciso transformar o cenário e promover uma revisão e uma reestruturação deste formato. Enquanto esta discussão e busca por alternativas ocorre de maneira lenta e gradual, devido à sua complexidade, há, porém outro caminho que deve ser considerado prioritário para que os resultados sejam atingidos de maneira mais rápida, fazendo frente ao crescimento exponencial dos custos. Este caminho é a adoção de novas tecnologias capazes de revolucionar os serviços de saúde. Neste contexto, destacam-se os conceitos de telemedicina, e-Health e m-Health.
A Organização Mundial da Saúde define e-Health como o uso das tecnologias de informação e comunicação (ICT) na saúde. Em uma definição mais ampla, e-Health consiste em melhorar o fluxo de informação, através de meios eletrônicos e, com isso, aprimorar a prestação de serviços e a coordenação dos sistemas de saúde. Já om-Health, que está inserido dentro de todo este conceito mais amplo, permite a colaboração por meio de aplicações disponíveis nos dispositivos móveis. O que é mais importante é que esses recursos não só ampliam a assistência facilitando o acesso dos pacientes aos médicos e provedores de saúde, mas diminuem os custos operacionais e evitam desperdício de recursos.
Embora este seja o caminho mais simples e rentável, o Brasil encontra-se bastante atrasado na adoção destas tecnologias, que, na verdade, já estão disponíveis há algum tempo. Seja por opção de uso e custos, desconhecimento ou mesmo por falta de acesso, muitas vezes os pacientes acabam procurando os serviços de maior complexidade, como as emergências e unidades de pronto atendimento, quando poderiam resolver boa parte dos problemas à distância. Teoricamente, já existe uma mudança de atitude dos consumidores. Segundo uma pesquisa divulgada pela empresa de tecnologia Cisco, 84% dos entrevistados disseram estar mais preocupados com a qualidade da assistência médica do que com o contato pessoal. O estudo também revelou que 76% dos usuários do sistema brasileiro de saúde dizem estar abertos ao atendimento médico virtual. No entanto, não obstante algumas iniciativas isoladas, ainda atravessamos a fase de quebrar barreiras no que diz respeito à aceitação e até boa vontade das autarquias e entidades de classe reguladoras para que estas inovações sejam implementadas.
Sendo assim, é mais do que preciso mudar o foco da proibição para a regulação. Os resultados seriam muito mais positivos se alguns paradigmas fossem deixados de lado. Estudos realizados em todo mundo apontam o m-Health, mais especificamente os apps, como ferramentas ideais para reduzir os custos em saúde. Na Europa, por exemplo, existe uma pesquisa que demonstra os impactos socioeconômicos da adoção do m-Health. Segundo a GSMA - Global Strategic Marketing Alliance, instituição responsável por compilar estes dados, esta tecnologia deve reduzir os gastos anuais totais com assistência à saúde em quase 100 bilhões de euros em 2017. Ou seja, o m-Health pode melhorar o estilo de vida, permitir o tratamento remoto de problemas de saúde, equipar os provedores de saúde para a tomada de melhores decisões clínicas e ainda tornar o sistema de saúde mais sustentável.
Os serviços de orientação e informação em saúde por telefone no Brasil já são exemplos de que as iniciativas de atendimento à distância podem ser bem sucedidas. Demonstram que é possível ter um atendimento de qualidade mesmo sem a presença física de um médico ou enfermeiro. O atendimento neste caso é realizado por profissionais de enfermagem e o diferencial do serviço está no fato do atendimento ser baseado em um software de algoritmos de triagem clínica, proporcionando cuidados mais assertivos, registrando perguntas e respostas e criando um histórico de todo o atendimento. De acordo com estatísticas realizadas pela TopMed junto a usuários desse tipo de serviço, foi possível reduzir em 59% as idas desnecessárias aos prontos atendimentos, aumentar em 50% o índice de autocuidado em casa e diminuir em 80% a incidência de automedicação. Imagine então se tecnologias mais avançadas, de monitoramento de saúde à distância, e atendimentos via videoconferência pudessem ser realizados em escala?
Portanto, neste momento, os esforços devem ser voltados para garantir que estas inovações tenham o mínimo de segurança e respeito aos preceitos básicos do atendimento em saúde. É preciso mais do que nunca enxergar a telemedicina como uma das saídas para alcançarmos um sistema de saúde que seja sustentável e ao mesmo tempo de qualidade e eficiência nos cuidados dos pacientes. Afinal, a tecnologia existe, a eficiência é comprovada e os usuários aprovam.
Fonte:ipnews